HISTÓRICO


                                     


           Até meados do século XX, a europa foi marcada por guerras, invasões, redefinições de fronteiras, ascensão e queda de grandes impérios, contudo fez com que muitos alemães fugissem dos conflitos territoriais causando enormes perdas no plano cultural, econômico e em vidas humanas. A todos os alemães que se instalaram no vale do Danúbio, em terras húngaras foram chamados de suábios (Schwaben). (LOPES, 2013)
                    
                 Conforme  Gabor Gyuricza
     "Muitas regioes da Hungria foram povoadas pelos suábios nos séculos 17 e 18, entre elas o condado de Veszprém. Os turcos invadiram a Hungria de 1526 a 1699 e mataram muita gente, dizimaram regioes inteiras que precisaram ser repovoadas. Foi assim que os suábios chegaram aqui, vindos de barco pelo Danúbio. Em alguns lugares - por esse motivo - sao chamados de "Donauschwaben".

        Houve um tempo em que a monarquia dos Habsburg da Áustria, que governava a Hungria convenceu muitos alemães que se mudassem para as terras da Hungria e outras regiões mais ao sul. Isto ficou conhecido como  “A grande marcha Suábia” (Der Grosse Schwabenzug). No período de 1683 e 1790 foram fundadas cerca de 800 aldeias na Hungria aos arredores de Veszprém, de onde no final do século XIX, saíram várias levas de imigrantes com destino a Jaraguá do Sul.
              Paulics (2004, p.39) ressalta:
Os suábios foram instalados pela Imperatriz Maria Teresa nos anos de 1740. A imperatriz deslocou populações (sempre os mais pobres) para repovoar áreas cujos habitantes foram massacrados pelos turcos. Parte do território era propriedade da família Eszterhazi (Pápa e arredores), outras das famílias Tihanyi e Zirci.             
         A imperatriz Maria Tereza reinou por 40 anos, implementou leis modernas,  e preservou nas aldeias de Veszprém o dialeto Schwäbisch. Os suábios sempre tiveram resistência em mudar o idioma para o húngaro, porém precisavam compreender e falar este idioma para relacionar-se em questões de negócios, educação, religião. Portanto, mantiveram o dialeto schwäbisch entre eles e aprenderam o idioma húngaro para relacionarem-se.
           A migração para a Hungria não foi um processo fácil pois houveram muitas dificuldades e trabalho árduo, pois recebiam as piores terras; e destacando a malária que provocou muitas  mortes. Na Alemanha a Hungria tornou-se conhecida como o cemitério dos alemães. Contudo, este povo forte e determinado superou com inteligência e muito trabalho todas as dificuldades e começou a colher os frutos de seu trabalho, porém tudo o que produziam era dividido com os donos das terras, pois ali trabalhavam sob o sistema de propriedade feudal, onde não eram donos das terras em que trabalhavam e sim de um nobre. Os suábios, na Hungria, viviam numa condição de servidão.
       A imigrante Izabel Leithold (IN. LOPES, 2013, p. 40) e em (SILVA, 2005, p.352 ) descreve:
Os latifundiários da Hungria não favoreciam os camponeses, estes não podiam ter vacas leiteiras, nunca mais de três suínos, para consumo próprio na engorda, com ração apanhada na propriedade de seus senhores. Para nos aquecer no inverno só podíamos juntar os gravetos das propriedades, ainda assim escondidos dos guardas que revistavam nossos pertences e retiravam a lenha mais grossa que recolhíamos. Éramos muito pobres na Hungria, por esses motivos fugimos dessa vida. [...] Na calada da noite, em setembro de 1895, tentamos e conseguimos lograr os guardas, atocaiados, e finalmente passamos a divisa. Estávamos em território da Áustria, em liberdade. Ali éramos registrados e selecionados para as regiões que desejávamos ir, entre Brasil, Argentina ou América do Norte. Na saída recebíamos um livro-guia que ensinava aos emigrantes coisas úteis, por exemplo, a construção de ranchos comuns, de taipa; tecer a palha guaricana para coberta, o sistema empregado para despregar os cipós embé e ao fabrico de balaios, fibras comuns na mata virgem litorânea, artesanatos copiados dos índios, que viviam na região; a utilização da cabeça do palmito como alimentação, conhecido pelos exploradores, entre eles Hans Staden, mas tarde Matheus e outros.[...] Dava conta quando aportaram em Blumenau, no ano de 1895, cerca de 1000 emigrantes, que se distribuíram por diversas regiões coloniais de Santa Catarina. No Barracão dos Imigrantes em Blumenau passamos nove dias. [...] 
                Para entender porque imigraram para o Brasil,  destaco a bibliografia consultada por Lopes (2013, p.41) : "[...], a condição de “servidão” que ainda estavam submetidos, as dificuldades sócio-econômicas e o sonho de poder plantar em sua própria terra, motivaram os húngaros a emigrar para a América na última década do século XIX."
        Portanto, partir da Hungria significava uma busca de terras próprias e liberdade, inclusive religiosa. Eles eram convencidos de que na América ninguém trabalharia para os outros. Nesse movimento migratório da Europa para as Américas, no período de 1821-1924 estima-se que chegaram 57 milhões de europeus, que por causa das transformações sócio-econômicas e demográficas e a oferta da necessidade de mão-de-obra e povoamento nas Américas, lançaram-se a esperança de melhoria de vida. Os imigrantes húngaros que vieram para Jaraguá do Sul, estavam inseridos no contexto da colonização na Província de Santa Catarina.
        Blogár (2000, p.33) descreve: 
Na última década do século XIX, mais precisamente em 1890, iniciou-se a imigração dos húngaros do distrito de Vészprem para o sul do Brasil. A maior parte desembarcou em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, e alguns em Pelotas, no mesmo estado. Os primeiros povoados significativos foram formados em Santo Antônio da Patrulha (com 250 famílias), em Cantagalo e nos arredores de Jaraguá do Sul. Este último povoado está situado no estado de Santa Catarina, principal centro de colonização alemã. 
          Pfiffer  (2012) lembra que : 
Porém, vale destacar o feito dessa imigração é mérito do nosso saudoso Dom Pedro II, visionário homem público, que aproximou Brasil e Hungria, desde o ano de 1870. Isso gerou novas políticas de fortalecimento de amizade fraterna e respeito pátrio, entre as duas nações.
        A propaganda para a emigração teve iniciativa pública  tanto no Brasil como na Europa, porém o impulso maior foi dado pelas companhias particulares de navegação e sociedades de imigração e colonização.  O contato era realizado por “agentes de imigração” que utilizavam-se de argumentos que nem sempre eram verdadeiros. O que mais atraía eram as terras que diziam ser gratuitas, porém a legislação brasileira através da Lei de Terras de 1850 estabelecia a venda e não doação. Contudo os camponeses fragilizados com tantas dificuldades, iludiam-se facilmente. 
         Blogár (2000, p.87) descreve:
A propaganda da imigração era feita por agentes das companhias de navegação. [...] Os agentes lançaram-se sobre muitas regiões húngaras e convenceram populações de aldeias inteiras a deixarem sua pátria. A propaganda prometia aos Húngaros que na América do Sul, cada família receberia gratuitamente um lote de terra de 120 acres, além de equipamentos, provisões, vacas leiteiras, galinhas e, quem sabe, as parteiras...! 
       Dreher, (1984, p.36) também descreve: 
[...] os rios brasileiros são cheios de ametistas e topázios e tem suas águas doces como o leite, a terra que está a sua espera é doce, fértil e encantada, as matas estão cheias de frangos e as carnes dão na cerca. “Tinham, pois, a impressão de haverem partido para a terra prometida. 
         Assim, os camponeses tendo os seus sonhos alimentados e desafiados pela frase: “Sair para o grande mundo é para os valentes... Vocês acham que vai entrar frango assado em suas tendas?” (PAULICS, 2004, p.6), partiam para um lugar desconhecido e desavisados  de que seria necessários muito trabalho
        
        Para entender o significado da imigração para a América do Sul, precisamos conhecer um pouco da história das terras que os imigrantes adquiriram. Para isto voltamos no tempo e chegamos a D. Pedro I, suas filhas Princesas D. Januária[1] e D. Francisca[2] que eram irmãs de D. Pedro II[3], e as filhas dele a Princesa Isabel[4] e Princesa Leopoldina[5]. Entre príncipes e princesas segue a nossa história. A Lei n.166 de 29 de setembro de 1840 oferecia entre outras vantagens econômica-financeira às Princesas em idade de se casar, a escolha de um patrimônio em terras pertencentes a nação, se no Brasil permanecessem. Se optassem em residir no exterior, então receberiam em dinheiro, o valor equivalente das terras.
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1] Januária Maria Joana Carlota Leopoldina Cândida Francisca Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança,[2] Princesa Francisca Carolina Joana Leopoldina Romana Xavier de Paula Micaela Rafaela Gabriela Gonzaga de Bragança (nasceu no Rio de Janeiro em 02.08.1824 e faleceu em Paris em 27.03.1898. Era sexta filha e quarta varoa do Imperador Dom Pedro I (1798-1834) e da Imperatriz Dona Leopoldina do Brasil (1797-1826). Seu primeiro nome foi uma homenagem ao Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d’água da América do Sul.[3] Dom Pedro II (Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891.[4] Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon[a] (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1846 — Eu, França, 14 de novembro de 1921),[5] Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (Rio de Janeiro, 13 de julho de 1847 — Viena, 7 de fevereiro de 1871)
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          Em 1837, o Príncipe François de Orleans (1818-1900), Príncipe de Joinville – filho do Rei Louis-Philippe da França, a caminho da Ilha de Santa Helena, onde deveria buscar os restos mortais de Napoleão Bonaparte (1769-1821) e levá-los de volta à França, fez uma escala no Rio de Janeiro, onde foi recebido pelo jovem Imperador Dom Pedro II e conheceu a Princesa Dona Francisca. Os jovens Príncipe e Princesa se apaixonaram instantaneamente. Em primeiro de maio de 1843, a Princesa Dona Francisca foi a primeira a se casar. E  contrariando a legislação, Dona Francisca recebeu parte de seu direito em moeda corrente e mais uma pequena diferença foi acertada com uma gleba de terras na província de Santa Catarina, distrito de São Francisco do Sul, entre os rios Três Barras e Itapocu, e denominou-se “Colônia Dona Francisca”. O Príncipe de Joinville, posteriormente teve o aproveitamento econômico do dote através de um contrato de colonização com a “Sociedade Colonizadora de Hamburgo de 1849”, organizada pelo Senador Christian Mathias Schroeder[1]. A partir de então, essas terras começam a ser povoadas. 
          A Princesa D. Januária[2] do Brasil (1822-1901) casou-se no Rio de Janeiro em 28 de abril de 1844 com Luís Carlos Maria de Bourbon e Duas Sicílias(1824-1897), Conde d'Áquila, príncipe do Reino das Duas Sicílias, filho do rei D. Francisco I. O patrimônio dotal compreendia fazendas no Maranhão e Piauí, mas como não fixou residência no Brasil recebeu a sua parte em dinheiro. 
         A Princesa Isabel filha de D. Pedro II, em 1864 casou-se com Sr. Conde d’Eu, e a Lei 1904 de 17 de outrubro de 1870 instituia o Patrimônio Dotal que compreendia em terras a serem demarcadas na Província de Santa Catarina, onde uma parte já havia sido demarcada em Grão Pará, ou Orleans, município de Tubarão e outra parte seria no vale do rio Itapocu. Há também uma parte do Sergipe. 
         A Princesa D. Leopoldina renunciou aos seus títulos ao casar-se com Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, assumindo então os títulos de princesa de Saxe-Coburgo-Gota e duquesa de Saxe.
       Em 15 de abril do ano de 1876 desembarcava em terras dotais da Princesa Isabel (colônia Jaraguá), Cel. Emílio Carlos Jourdan e seu genro Charles Caffier, juntamente de cinco canoeiros com o objetivo de demarcar as terras que pertenciam ao dote e iniciar a colonização destas terras. Havia outras partes que pertenciam a Princesa Dona Francisca (Domínio Dona Francisca) e ao Estado de Santa Catarina, que posteriormente ele haveria de colonizar também. Desta forma, chegaram aqui, alemães, italianos, húngaros, poloneses, luso-brasileiros e escravos libertos. 
            Conforme Lopes, 2013, p.21-22) 
As terras da Colônia Jaraguá eram parte das antigas terras dotais da Princesa Isabel entre os rios Jaraguá e Itapocu; os colonizadores dessa região tinham procedência das localidades de Luiz Alves, Joinville, Blumenau e adjacências, e eram em sua maioria descendentes de alemães e italianos. A colônia Dona Francisca ocupava principalmente as terras à margem esquerda do Rio Itapocu e pertencia a Companhia Colonizadora Hamburguesa. Os colonizadores dessa região vinham principalmente de Joinville. As terras pertencentes ao Estado de Santa Catarina eram localizadas à margem direita do Rio Jaraguá e foram vendidas pelo departamento de Terra e Colonização, sediado em Blumenau, em 1890.[...]
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[1] proprietário de linhas de navios que tinha imenso interesse no negócio do transporte de imigrantes, lucrativo comércio disputado por holandeses, alemães e ingleses.[2] A Princesa Dona Januária Maria Joana Carlota Leopoldina Candida Francisca Xavier de Paula Michaela Gabriela Raphaela Gonzaga do Brasil (nascida Infanta de Portugal), foi a quarta filha e segunda varoa do Imperador Dom Pedro I (1798-1834) e da Imperatriz Dona Leopoldina (1797-1826). Nascida no Palácio de São Cristóvão, a Princesa recebeu seu primeiro nome em homenagem à Província do Rio de Janeiro. Tendo nascido no ano em que seu pai proclamou a Independência do Brasil, Sua Alteza ficou conhecida como a Princesa da Independência.
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            Segue um Mapa da colonização de Jaraguá do Sul (LOPES, 2013, p.22)




          Lopes (2013, p.11) decreve "Os colonizadores deixaram suas marcas. Destre estas, podemos citar o idioma, a arquitetura, a culinária, as danças, as tradições, enfim, toda a gama cultural que se reflete até os dias atuais na população jaraguaense.” 
        A partir de 1890 um grupo de imigrantes húngaros se estabeleceu às margens do Rio Garibaldi, porém estes chegaram antes que a família Kanzler em questão, que conforme Silva (2005) chegaram no ano de 1895, ano confirmado em documentos familiares. Os primeiros imigrantes húngaros que chegaram em Jaraguá do Sul foi em 1891 e vieram por Blumenau em carroções passando por Pomeranos e chegando em Rio dos Cedros. De lá seguiam todos a pé: homens, mulheres, crianças, idosos e toda a sua bagagem penetrando na mata virgem, abrindo picadas no Alto Garibaldi.
         Conforme Majcher (et.al., 2008, p.62):
“A pé, iniciaram a subida íngreme da Serra do Garibaldi [...]. De 6 km era percurso da subida: andando, escorregando, engatinhando. Crianças pequenas eram levadas no colo das mulheres, os maiores levavam objetos mais leves. Os jovens e os homens, os pesados. Era necessário conduzir todos com segurança. O guia foi Luiz Piazera.”[1] 
[1] Luiz Piazera era encarregado do encaminhamento dos imigrantes aos lotes das terras devolutas, mandadas demarcar pelo Governo do Estado, nos vales do Rio Itajaí e Rio Itapocu no período de 1891 a 1899. (SILVA, 2005)
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      Se a subida foi difícil, imaginem a descida escorregadia por grotas profundas, tropeçando em raízes e se defendendo das formigas, mosquitos, cipós com espinho e até cobras. A dificuldade das mulheres com suas saias longas, crianças pequenas ao colo e levando seus pertences... Passado a Serra do Garibaldi, chegaram a cabeceira do Rio Jaraguá conhecida como Alto Garibaldi, onde foram instalados em um barracão de ripas rachadas nas quatro paredes e cobertura de palha de mato, trançadas com sarrafos da mesma espécie.Com certeza os imigrantes se decepcionaram no início e Blógar (2000, p, 48) descreve uma indagação angustiada: “Esse é aquele Brasil que o agente havia descrito na Hungria?”
      A família de Lorenz Kanzler não estava neste grupo, pois eles chegaram em 1895 e instalaram-se no picadão do Rio Molha, porém a descrição da chegada, pode ser considerada a mesma pois esta localidade também é um lugar montanhoso onde ainda há relatos da existência de tigres e índios botocudos que assaltavam pessoas isoladas, roubavam gado, roupas. 
      Nada foi fácil nesse período de adaptação visto que tudo era adverso aqui no Brasil, principalmente o clima e as doenças tropicais. Neste ambiente muito diferente, tiveram que adaptar hábitos e culturas e aprender com os caboclos a se embrenharem na mata virgem para retirarem as suas necessidades para sua sobrevivência. Logo perceberam que a natureza trazia-lhes agradáveis descobertas como frutos, mel, peixes e caças e assim iam se adaptando e adquirindo novos conhecimentos.
          Boglár (2000, p.72) descreve que:
Nos primeiros tempos viviam em condições precárias, mas logo começaram a organizar o futuro, primeiro construíram uma capela e logo depois, uma escola, e não se esqueceram do passatempo, nos salões onde bailavam os jovens e os homens jogavam boliche ou cartas, enquanto isso, as mulheres trabalhavam na cozinha.

        É forte na cultura húngara a religiosidade, católica; na culinária destacamos o Strudel[1], o Kipfel (massa recheada com canela),o Streussel Kuchen (cuca de farofa) o marreco recheado, o Goulash (sopa de carne com páprica); a dança, a música destacando o bandoneon e o violino. 
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[1] Strudel é uma palavra da língua  alemã. Designa um redemoinho de água que se forma nos poços dos rios, no término das corredeiras. O Strudel, bolo de massa  folhada e recheada, recebeu este nome pela sua semelhança, depois de enrolada, com os redemoinhos dos rios, e é conhecido em toda a Europa Central. Mas não se sabe, ao certo, de que região é originário, nem em que época surgiu. (Lopes, 2000, p.106)Origem do Apfelstrudel . Disponível em http://www.apfelstrudel.com.br/trad.html, acessado em 11.02.2015.O Apfelstrudel é uma sobremesa tradicional austríaca, nascida em Viena, tendo-se tornado popular internacionalmente. É a receita mais conhecida com a massa folhada da Europa central, conhecida em Alemão por Strudel. Pensa-se que tenha sido influenciada pelas cozinhas do Império Bizantino, da Arménia e da Turquia. Em Viena, é possível encontrar vestígios destas três cozinhas.É também possível encontrar o Apfelstrudel no sul da Alemanha e em muitos países que outrora fizeram parte do Império Austro-Húngaro, com a Croácia, a Hungria, a República Checa, a Eslováquia e a Eslovénia.Consiste num invólucro oblongo de massa de strudel, recheado com maçãs cortadas em quadrados pequenos, canela, passas e migalhas de pão. Por vezes, é utilizado rum para intensificar o sabor. Outros ingredientes possíveis são os pinhões, as nozes e as amêndoas. A arte da preparação consiste em fazer a massa muito fina e elástica. Diz-se que cada camada deve ser suficientemente fina para se conseguir ler um jornal através dela.O Strudel é assado em formo medio para forte e após ficar dourado polvilhar com açúcar de baunilha.As maçãs devem ser de boa qualidade e sempre um pouco ácidas.


         É certo que a família Kanzler não pertenceu os primeiros húngaros instalados no Garibaldi, mas existe a participação de alguns deles como testemunhas em registros de casamento de Rodeio. (LOPES, 2012, p.159)







  

        A pesquisa documental referente aos registros de embarque em navios não foi bem sucedida, pois há muitas possibilidades de viagem, a busca foi intensa, mas nada foi encontrado. O mais bem conceituado historiador de Jaraguá do Sul, Emílio da Silva (2005, p.84) em seus registros descreve como a família Kanzler chegou a Jaraguá, e por esta dou preferência.


[...] Veio Lorenço com seus pais, no ano de 1894, para trabalhar no lote de terras, demarcado pelo Estado, situado no caminho do Rio Grande da Luz.Lorenz Kanzler e sua família, antes de se mudarem para o Brasil, saíram do Império da Áustria, a fim de trabalharem em Budapest, no Reino da Hungria. Em 1895, demandaram para a Itália, em Udine, onde tiveram notícias alvissareiras sobre a colonização, concedida pelo Imperador do Brasil, situada ao sul do país – Santa Catarina. O velho Lorenz, esposa e os seus filhos: Antonio, Paulo, Lorenço, João, Wenceslau, Maria e Theresa embarcaram da Itália com destino à Santa Catarina.Em alto mar, faleceram suas duas filhas, vitimadas pela falta de higiene. Nas Ilhas das Flores repousaram, e em seguida aguardavam o desembarque no porto de Cachoeira-Joinville. A última etapa da longa e cansativa viagem terminara em Jaraguá em 25 de agosto de 1895, embarcados em canoas do porto de Itapocuzinho 1 até o porto situado no caminho próximo da casa comercial de Johan Gottlieb Stein, atual salão Marabá. Dentre os canoeiros um era o João da Silva Rondão, natural da Bahia.Lorenz o patriarca, ao tomar conhecimento do agrimensor Angelo Piazera, que ofertava grande trato de terras da margem do rio Itapocu até a atual propriedade dos herdeiros de Leopoldo Mahnke, pelo preço de 700$ 000 réis, pagáveis a longo prazo, Kanzler, sem hesitar, deu a resposta: “Was sollen wir mit solchem “capim Gebiet”.Depois de ter explorado outras terras, requereu do Estado os lotes nº 7, 8 e 18, todos no picadão do rio da Molha. Em maio de 1902, morreu sua mulher Maria Menzinger. [...]

        Ao chegarem no Brasil, os imigrantes eram recebidos na Ilha das Flores, ou também conhecido como Ilha das Cobras. Lá ficavam em quarentena para se recuperarem da viagem. Segue algumas imagens para melhor compreensão de como eram recebidos.


Vista panorâmica da Ilha das Flores. Ao lado esquerdo, a Praia do Diretor. À direita, o Cais da Frente, onde o imigrante desembarcava. (Foto Coleção Leopoldino Brasil).      
                                                        

Assim que desembarcavam, os imigrantes preenchiam uma ficha e seus documentos    eram conferidos. Passavam pelos procedimentos sanitários, pegavam roupas de cama e sabão e seguiam a seus respectivos alojamentos designados. Havia quatro pavilhões destinados a acomodar os imigrantes que chegavam à hospedaria.           

       Dormitório (Coleção Leopoldino Brasil)

No Refeitório, eram servidas três refeições diárias: desjejum, almoço e jantar. Na madrugada começavam os trabalhos na cozinha, para fazer o desjejum e começar os preparativos para o almoço. Houve ocasião de serem 3.500 os hospedados na ilha! (Foto do refeitório)




Havia mais a Lavanderia, a Carpintaria, o Posto Telegráfico, o Necrotério e o Balcão de Empregos. Todos esses serviços eram realizados por um grupo de funcionários que garantia o funcionamento da hospedaria: havia médicos, cozinheiros, carpínteiros, telegrafistas, intérpretes e pessoal administrativo. Residiam na ilha o médico, o farmacêutico, o eletricista e o diretor.



Ainda hoje é possível, ao percorrer as instalações da antiga Hospedaria, contemplar o mar e aproveitar a sombra de árvores centenárias.


           Depois de um período de quarentena na Ilha das Flores, ou também conhecido como Ilha das Cobras, os imigrantes seguiam o seu destino. No caso da família Kanzler, não sabemos ao certo por onde chegaram, apenas a descrição de Emílio da Silva, que descreve ser por Joinville. Em conformidade apresento o porto de Joinville.




             

               Fonte: http://mlb-s2-p.mlstatic.com/postal-joinville-porto-de-joinville-13759-MLB3421233894_112012-F.jpg


      Então chegaram!  


      Sobre Lorenz Kanzler sabemos que seu nome na Hungria era Lörincz Kantzler e era casado com Mária Maitzinger.  Moravam e trabalhavam em Ötvöspuszta (uma propriedade rural da família Eszterházy, que ficava ao lado de Pápasalamon)(um pouco mais ao sul, perto de Sümeg)


      Em pesquisas realizadas na Hungria são filhos de Lorenz e Maria:
      - Anna (1882); que não veio para o Brasil.
      - Lorenz (nasceu em 1883 e morreu um ano depois)
    - Lorenz (Lourenço nasceu em 1885); Nasceu em Nyárad - Veszprem  e veio para o Brasil com 10 anos.
      - János (João nasceu em 1887); veio para o Brasil com 8 anos.
      - E o caçula Vendel (Wenceslau)nasceu em 1889 em Pápasalamon (condado de Veszprém); veio para o Brasil com 6 anos.

     A família da mãe (Maitzinger) nao é oriunda de Viena e sim de Nóráp.

     Conforme descrição de Emílio da Silva Lorenz Kanzler chegou com mais outros filhos que não estão aparecendo na descrição. Conforme registro de nascimento abaixo é certo que Anton Kanzler também é filho de Lorenz e Mária Maitzinger e ainda há o Paulo e as meninas Theresa e Maria que faleceram na viagem vindo para o Brasil.

“No. 2 – Registro de Nascimento – Aos sete dias do mez de Maio do anno de mil oitocentos noventa e oito, neste districto de Jaraguá, município de Joinville Estado de Santa Catharina em meu cartório compareceu Antonio Canzler, filho legitimo de Lourenço Canzler, e de sua mulher Maria Meisinger, naturais da Hungria residente no Itapocusinho e declarou que no dia dous de Maio do corrente anno, as quatro horas da manhã, em sua residência sua mulher Anna Canceler (SIC), filha legitima de Mathias Hirch SIC- HIRSCH), e de sua mulher Thereza Xumcoser (SIC), naturais da Hungria, no dito dia hora e logar, em sua residência sua referida mulher deo a luz a uma criança do sexo masculino, primeiro filho de seu matrimonio e se chamará Antonio. Declarou mais que contrahio matrimonio civilmente. Do que para constar lavro este termo que comigo assigna o declarante e as testemunhas Nazario Rogerio da Costa, Hermelino Luiz Athanasio; eu Joaquim Athanasio  da Costa, escrivão o escrevi. Anton Kanzler. Nazario Rogerio da Costa. Hermelino Luiz Athanasio.”
 In: Registro Civil – Jaraguá do Sul – Nascimentos de Janeiro de 1896 a Dezembro de 1899 - Ano 1898, Livro A-1, Pág. 75, no. 42 – FS – Pilot Site

      Resumindo a família era assim constituída conforme descrição de Emílio da Silva e chegaram no Brasil

Lorenz Kanzler e Mária Maitzinger e seus filhos:
Anton (devia ser o mais velho e possivelmente já veio casado)
Paul (Paulo) com 16 anos.
Lorenz (Lourenço)  com 10 anos
János (João) com 8 anos
Vendel (Wenceslau) com 6 anos
Theresa e Maria, faleceram no navio vindo para o Brasil

      Emílio da Silva descreve que primeiramente se instalaram na região de Rio da Luz, mas não encontrei evidências disso, porém existe a participação de Lourenço e João na  construção da escola no Rio Cerro que é próximo a localidade de Rio da Luz.  Mas o que é certo é que a família Kanzler residiu no Rio Molha ou Ribeirão Pedra da Molha em Jaraguá do Sul - SC

       Em pesquisas realizadas pelo amigo Loreno Luiz Zatelli Hagedorn, foram encontradas os seguintes registros de terras.

ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE  ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO
DIRETORIA DE GESTÃO DOCUMENTAL/ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO
GERÊNCIA DE RECUPERAÇÃO DOCUMENTAL
SUPERVISÃO DE ARQUIVO PERMANENTE, BIBLIOTECA DE APOIO E PESQUISA
SUPERVISÃO DE PROCESSAMENTO TÉCNICO

ÍNDICE GEOGRÁFICO DOS PROCESSOS DE TERRAS DA SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO - COORDENAÇÃO DE LEGITIMAÇÃO E CADASTRAMENTO DE TERRAS DEVOLUTAS - COLECATE

VOLUME 8 - CAIXA 54 - Florianópolis, Fev. de 2010.


NOMES
LOCALIDADE
AREA (M²)
DATA
LIVRO
FLS
GAVETA
PCT
253
João Kanzler
Ribeirão do Molha
290.000,00
09-06-1916
771
328v
557
19_
261
Paulo Kanzler
Ribeirão do Molha
227.700,00
04-05-1927
784
225
560
19_

     No cemitério da localidade de Ribeirão Molha encontra-se sepultados alguns Kanzler, que verificando o parentesco, nota-se ser de outro ramos familiar ao de Lorenz Kanzler. Familiares contam quem "vieram dois da Hungria". Talvez seja possível um parente de Lorenz Kanzler ter se instalado naquela localidade. Também encontrei com nome Kanzler na localidade de Garibaldi, mas não consegui fazer conexões.

      A família Kanzler fez parte do desenvolvimento de Jaraguá do Sul e região, principalmente com suas obras. E essa arte acompanhou as gerações seguintes dos familiares Kanzler. Contudo, esta família viu diferentes contextos ao longo desses 120 anos.


EM CONSTRUÇÃO






7 comentários:

  1. Olá sintia, muito bom todo este material que você buscou e colocou em seu blog, PARABÉNS, pelo trabalho de pesquisa

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  2. Emocionante Síntia..parabenizo o excelente trabalho, vamos dar continuidade com a história dos Kanzler no Brasil
    Grande abraço
    Sandro Ap. Kanzler - bisneto de Paulo Kanzler

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  3. Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa realizado até aqui, essa história e muito rica e há muito a ser descoberto.

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  4. PERGUNTO se o senhor que é bis neto do Paulo, sabe como se chamava a mulher do Paulo, que que pode ser um que mais tarde foi habitar em Canoinhas me parece que esse Paulo é avô de minha mulher-Ha uma Thereza muito antiga aí-a minha sogra se chamava Thereza, em homenagem a alguem da familia

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  5. Olá, parabéns pela pesquisa. Meu sobrenome é Kanzler.

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  6. Parabens sou bisneta de Wenceslau Kanzler, Neta de Willy Kanzler

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